quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Desenterro

Vou de encontro ao meu algoz
Sem compasso ou estribilho.
Trago no olhar veloz o brilho
Com o pesar de um desolado filho.

A pá fustiga o chão atrás de restos mortais,
Remexe a terra, assim como desperta lembranças
Da vida passada, sempre presente,
Das diversas alianças, de tempos que não voltam jamais.

Pouco a pouco finda a terra que fortalece a gênese divina:
"Do pó vieste e ao pó voltarás!",
E do invólucro alí sacramentado,
Só retornam ossos aos reclamantes
Que um dia abrigaram órgãos de um ser errante,
Errado por banhar-se em excesso no rio de melanina.

Não traio meus olhos marejados.
Observo e rezo,
Sem dar o prazer, ou trazer
Ao conhecimento daqueles poucos que prezo.

Troca o caixão preto
(como os ossos corroídos pelo tempo)
Por um saco azul e plástico,
Um envoltório de aspecto brilhante, sorridente e sarcástico.
Deixa o corpo jazer,
E que este epitáfio se faça estribilho:
"Aqui jaz o homem que se fará continuar pelo filho."

Um comentário:

Anônimo disse...

Denis, você é fora de série! Neste momento dificil conseguiu colocar em palavras seus sentimentos. E que palavras! Ele realmente fez um ótimo trabalho, juntamente com sua mãe! Fique em paz, primo! Bjs.Beth.