quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Poesia Marginal


Escrevo meu verso feito Preto-Velho
Que risca seu ponto com a pemba
Neste nosso fracionado universo.
Em meio a empreendedores e visionários
Dichavo vivências diversas,
E parafraseio em múltiplas conversas
Um silêncio que não tem significado
No dicionário próprio da sua linguagem.

Eu vivo à margem,
Pois nasci intermediário
E, ainda sim, carregando a responsabilidade
De conhecer os dois lados
De uma história que ninguém conhece a verdade.

Não obstante, 
São pedras comuns que permeiam meu caminho.
E nem tudo que reluz é ouro,
Concordo...
Mas não ando sozinho.

Nada de brilhantismo.
Originalidade e goles de descontentamento
É o que me dá coragem de enfrentar
Um mundo com leis, posses e cimento,
Junto à dezenas de milhares
Tratados como selvagens no transporte coletivo
- sem sombra de dúvida, a preço abusivo.

Eu não canto, confesso.
Aprendi a tecer flores de linguagem,
Assim seduzi sem saber dançar
E sofri pela falta dessa minha malandragem.

Por falar em falta,
Já ouvi dizer que ginga não se aprende na escola
E que poesia não se aprende na Academia...

Eu que jogava bola e ria,
Passei a ler jornal, mesmo sem sair da rua
Acabei por descobrir que dizendo versos à lua
Construí minha poesia marginal.

domingo, 31 de março de 2013

Os Sem Teto

Toda lágrima, toda fome,
Todo ódio, todo nome,
Como tudo o que é informe
Tem seu endereço.

Todo riso, toda brisa,
Tudo o que é calmo,
Tudo o que é cinza,
Tudo o que a camisa envolve
É corpo preto e peito nobre
Descalço na calçada,
Vivendo à própria sorte.

De tudo o que existe,
A vida parca que insiste
É a busca pela vida.

Às vezes o dinheiro envenena a guerrilha
E cerca, às pressas, toda a gente pobre.
De onde vem o grito mais nobre,
Senão desse povo de vida sofrida?
Cabe à mim mesmo a investida:

Programas sociais: dinheiro
Atividades culturais: tempo;
Atenção (antes de mais nada!) - e afeto.
Mas, para muitas famílias
O pouco que bastava era um teto
Para fazer ninar os filhos
Desta nossa sociedade.

A Polícia mata. A Rota, em especial.
Mas veja o que saiu no jornal:
Mais desapropriações!
Amigo, desligue a televisão...

Te chamo para este poema,
Assuma como seu este problema.
Já somos dois a buscar a solução:
MORADIA SIM, LATIFÚNDIO NÃO!

sexta-feira, 15 de março de 2013

Meu Violão

Meu violão não afasta a tristeza,
Ele canta a saudade que invade;
Ele encanta o presente - nem sempre sorridente;
Ele canta o passado, nem sempre calado.

Meu violão às vezes alegra um dia de festa,
Às vezes embeleza a hora da morte,
Às vezes narra o medo e a sorte
E os infinitos tempos que o corpo detesta.

Meu violão nunca chora,
Nem sou virtuoso compositor.
E o que acontece na dor, no silêncio e agora
É cobrar da memória o momento que for.

Às vezes calo meu violão:
Dou descanso às cordas, dou valor às notas
E recebo a poesia do seu silêncio.

O descanso é denso,
Mas é rápido que acorda.
E tocando suas belas notas
Rompe o resto do nosso silêncio

E nos acorda.
Trás para a consciência
(ao som de um reggae)
A verdade que aflora, que impede que eu negue:
Meu violão é o companheiro de todas as horas.

sábado, 6 de outubro de 2012

Se esta rua fosse minha...

Na minha rua
Quase não vejo flores.
Não há flores nesta Primavera
E nem houvera prima para as minhas flores.

Na minha rua
Quase não vejo casas,
Constroem-se apartamentos
Em lugar de velhas brasas.

Na minha cidade
Quase não há drogados.
Foram expulsos das ruas,
Circulam famintos por todos os lados.

Na minha cidade
Quase não existem favelas:
Os barracos ardem em fogo.
Há pessoas sem lares de novo.

No meu Estado
Quase não há corações.
Há (sim) senhores que estalam os dedos
Enquanto grupos de extermínio realizam desapropriações.

No meu País há muito dinheiro,
Mas o desemprego, o analfabetismo e a miséria nos jogam no poço.
Onde está o ouro amarelo da nossa bandeira?
Qual é mesmo o significado de impávido colosso?

"...Dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada, Brasil."

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Desenterro

Vou de encontro ao meu algoz
Sem compasso ou estribilho.
Trago no olhar veloz o brilho
Com o pesar de um desolado filho.

A pá fustiga o chão atrás de restos mortais,
Remexe a terra, assim como desperta lembranças
Da vida passada, sempre presente,
Das diversas alianças, de tempos que não voltam jamais.

Pouco a pouco finda a terra que fortalece a gênese divina:
"Do pó vieste e ao pó voltarás!",
E do invólucro alí sacramentado,
Só retornam ossos aos reclamantes
Que um dia abrigaram órgãos de um ser errante,
Errado por banhar-se em excesso no rio de melanina.

Não traio meus olhos marejados.
Observo e rezo,
Sem dar o prazer, ou trazer
Ao conhecimento daqueles poucos que prezo.

Troca o caixão preto
(como os ossos corroídos pelo tempo)
Por um saco azul e plástico,
Um envoltório de aspecto brilhante, sorridente e sarcástico.
Deixa o corpo jazer,
E que este epitáfio se faça estribilho:
"Aqui jaz o homem que se fará continuar pelo filho."

domingo, 15 de janeiro de 2012

E dizem não à mandinga...

Não vos trago verso,
Venho anunciar que
Por hora estou de recesso.


Possesso,
Sou feio como metáfora às autoridades,
Como concordância com as barbáries.
Sou amor pela pele, pela nossa terra,
Dos meus tambores regresso.


Volteado de santos católicos
Minha mandinga não presta.
Mas diga, sinceramente,
Quando sua medicina não cala seus gritos caóticos,
O que é que lhes resta?


Seus livros editados manipulam a gênese
E encobrem a barbárie, ilesos e imunes.
Sacramentam e cultuam livros de vários autores
E negam a santidade de outros que fogem aos seus costumes.


Caso contrário seria um estopim,
O término da gênese, o princípio do fim.
E como está, já não é direito para a Terra,
Os homens temem o fim e pedem salvação ao seu Deus
Cantando canções de guerra.


Mas peço que confiem na justiça,
Corruptível pela superioridade alegada
Que segrega, que discrimina
Que desemprega, que mata


Por lucro das suas corporações e bons costumes da sociedade primata.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Insônia

É a ausência da cama,
Procurando tema na sala
Para inserir no texto
A palavra que ninguém nunca fala;

É o pensamento incessante
Montando seqüências,
Construindo sentenças
Que fracas,  se quebram em instantes;

É o convívio que agride,
O frato que não progride,
É a palavra que  insiste
Em uma rima que não existe;

Mas e se somente
Eu fosse triste?
Ficaria eu, na madrugada acordado
Pensando na destruição da Amazônia,
Contando sementes,
Investigando a razão da minha insônia.